62º - Eu vou ter uma enfermeira linda de doer, de parar o trânsito.

Eu não sabia o que fazer. Não queria bater de frente com eles, não queria reclamar, pelo menos não naquele momento com tanto problema. Também não podia reclamar com Luan e também não queria assustar ele ou deixar ele nervoso. 

Fui pra casa com o coração na boca, nervosa demais. Tentei dormir, já que ficava alerta à noite toda com o Luan. Estava cansada e acabei dormindo. Fazia uns dois dias que a casa estava do menos jeitos então acordei, dei uma organizada e depois de tomar banho, sai pra ir até o hospital. Resolvi pegar o metrô, pedi algumas informações e rezei pro Luan não saber, se não ele me mataria. Quando cheguei no hospital estava quase de noite. Não havia ninguém lá em baixo pra visitar ele, então pedi pra subir alegando que era acompanhante dele, mas fui informada que as visitas do dia estavam encerradas e ele não teria acompanhante. Não sabia como resolver e fiquei nervosa. Luan estava com um novo celular que Rober Havaí pego pra ele e eu liguei nele. 

- Amor, tem alguém aí? - Perguntei.

- Não, estou te esperando. - Falou.

- Eu estou aqui em baixo. - Expliquei pra ele a situação e comecei a chorar já. Estava com a cabeça cheia, não sabia o que pensar, tinha medo do pai dele ter me bloqueado, mas não quis falar isso pra ele. 

- Fica calma que eu vou pedir pra te pegarem ai. 

Ele desligou e eu voltei pra recepção, então encontrei Rober. 

- Só consegui vir agora, o escritório está uma loucura. - Ele falou. 

- Vê se consegue entrar. - Expliquei pra ele. 

- Você acha que ele bloqueou sua entrada. 

- Não sei, não sei… - Contei sobre a história da enfermeira e tudo mais e ele foi comigo até a porta quando um homem disse que Luan pediu pra me liberarem. 

Subi com Rober, já mais calma e pedi pra ele não contar a Luan. 

- Mas o que foi? - Ele me deu um beijo quando cheguei. 

- Não sei. Acho que algum engano. 

Rober ficou ali um tempo com a gente e eu fiquei com Luan. Conversava com ele, que contou pra mim muitas coisas sobre o dia, que havia muita gente pra visitar ele. Ele também teve que acalmar as fãs gravando um pequeno vídeo. 

- Você está bem já, olha só! - Disse pra ele. - Até está sentado. 

- Graças a Deus. - Dava comida pra ele na boca. - Vou ficar mal acostumado se você continuar a me dar comida assim. - Rimos. 

- Você sempre me mimou é minha vez. 

- Disse pros meus pais que não preciso de enfermeira. - Ele tocou no assunto e eu gelei. Então ele já sabia. - Fica só nós dois em casa, eu não estou tão ruim, posso andar com muleta, o médico disse, e você só vai pra escola de manhã, à tarde ficamos deitados juntos, a gente nem fica já mesmo. - Riu.

Ele achava que ia pra casa nossa. Eu resolvi não falar nada. 

- Você cuida de mim, não cuida?

- Claro que sim. - Falei. - Você sabe que eu faço tudo por você. 

- Mas também não quero dar trabalho pra você. 

- Você adora ser mimado Luan. - Ri. - Mas você nunca vai me dar trabalho.

- Então está decidido, eu não quero uma enfermeira. - Ele me olhou sorrindo. - Ao menos que ela seja bonita. - Revirei os olhos rindo. 

- Você não presta. 

- Bonita pode amor? 

- Não mesmo. - Ri pegando o suco pra ele. 

- Eu vou ter uma enfermeira linda de doer, de parar o trânsito. - Riu e eu olhei feio. - É claro que é você né neném. 

Sorri apaixonada. 

- Você que é o neném da vez né? 

- Nossa, sou mesmo. - Ele riu. 

No dia seguinte, pela tarde, Luan teve alta e meu coração ficou apertadinho. Estava com ele desde a hora do almoço por que Mari foi ter uma consulta médica. Ele não quis tomar banho, disse que preferia em casa, então só ajudei ele a trocar de roupa. 

- E meu carro? 

- Não sei direito, não perguntei amor. Mas parece que você tinha seguro, não é? 

- Tinha. - Ele disse. - Esqueci de falar com meu pai. 

- Ele está vindo buscar a gente. E vamos esquecer por um tempo que tudo isso aconteceu, não é hora de você entrar em pé de guerra com ele, deixa sua mãe nervosa. 

- Queria ver se você falasse assim pra ele que ele não entrava na nossa casa, pra ver como ele ia se sentir agora que eu to machucado. 

- Amor, esquece. - Beijei seu rosto. 

- Você devia falar isso sabia? 

- São seus pais, tira essa mágoa do peito. Foi comigo que ele mexeu.

- Ou seja, comigo. - Riu. 

À porta se abriu era quase noite e seus pais apareceram com o Rober. Eles conversaram com o médico e minha mãe veio me abraçar. 

- Aí que bom que você vai sair daqui. 

- Estou benzão já mãe. A Liz vai cuidar de mim. Estou louco pra chegar em casa, que bom que tem elevador. - Ele disse rindo e eu fiquei apreensiva. 

- Luan, mas você vai voltar pra nossa casa. - Ela disse e ele me olhou. - Seu pai falou que conversou com você, filho. Tem uma enfermeira… 

- Mãe, vou pra minha casa. - Disse já ficando nervoso. - Você não vai usar esse acidente só pra mim voltar. - Ele disse pro pai. 

- Luan, não… Eles sabem o que é melhor e… - Tentei evitar uma briga.

- Não Liz. Você vai ficar quieta, cuidar de mim. Nenhuma enfermeira vai cuidar de mim melhor que você. - Ele olhou pros pais. - Eu não vou voltar. Ele foi bem claro quando disse que lá a Liz não entrava. 

- Filho… 

- Mãe, se você continuar a insistir eu vou ficar bravo. - Falou sério e me pediu o braço pra ajudar ele a descer da maca e eu fiz. - Vamos, assim vocês podem conhecer nossa casa e jantar lá. 

Tentamos pedir pra ele colocar a bota em vez do gesso, mas o caso dele era mais sério e não deixava. O enfermeiro já havia ensinado ele a andar de muleta e eu só peguei suas coisas com seus pais bem sérios na nossa frente.

Fomos o caminho todo sem conversar muito, Rober foi com o carro dele e eu e Luan atrás do carro do seu pai. Ele estava feliz, perguntei o que ele queria jantar e ele pediu pro pai parar num super mercado. Desci com Mari, que já estava mais leve. 

- Desculpa Mari. - Disse enquanto compramos coisas pra fazer o frango com quiabo dele. 

- Eu conheço meu filho Liz, é cabeça dura. Não é sua culpa, o problema foi a briga dos dois. - Ela sorriu pra mim. - Só fiquei preocupada. Se você precisar de algo, me liga por favor. 

- Fica tranquila, eu estou de férias ainda, e ele dorme de manhã, vai dar tudo certo, eu vou cuidar dele Mari, ele sempre cuidou de mim. E vocês  podem ir lá quando quiser. 

Eu abri a porta e Rober ajudou Luan a ir até a sala com seu pai enquanto eu e Mari começamos a fazer a comida. Deixamos no fogo e fomos até a sala. Luan pediu pra mim pegar cerveja pra eles. 

- Pra você não. - Falei trazendo pros dois. 

- Poxa amor… 

- Está tomando remédio Luan. - Rober riu e ele fez careta. 

- Eu todo ferrado e pensando em cachaça. - Ri dando um beijo nele e sai. 

Mostrei a casa pra Mari e ela adorou, disse que eu era bem organizada, e a decoração estava linda, que realmente tinha jeito pra trabalhar com isso. Fiquei bem feliz com o elogio da sogra. E depois fiquei feliz por que comemos em paz, vi que Luan estava satisfeito, feliz. Estava tudo ocorrendo bem e eu sentia que ele percebeu que aquilo era um tapa com luva de pelica no paí. 

Estava ao seu lado, ele me abraçou com o braço bom e fazia carinho o tempo todo enquanto sua mãe elogiou minha sobremesa de chocolate feita às pressas. 

- Já pode casar princesa. - Riu. 

Fiquei meio envergonhada por ele me tratar com tanto carinho na frente deles, ficava com medo deles acharem algo errado, mas ele me fazia tão bem, que nem me importei. 

Eu só tinha uma certeza: ia cuidar muito bem do meu bebezão e mostrar pro seu pai que poderia ser a melhor mulher possível pra ele. 

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