27º - Mas não consigo Liz. Eu tentei, mas não posso.

Era quase Natal e então eu estava numa livraria com Paula. Ela me arrastou pra lá depois de arrumamos as malas pra uma viagem de mais de um mês com meus pais. Ela comprou alguns livros e depois passamos a ultima noite em casa antes de ir pros EUA. É claro que a viagem seria incrível, a gente estava cada vez mais próximos. 

Durante a nossa estadia, ele estava tirando algum tempo do dia pra ler, e veio comentar o quanto tinha achado algum livro lindo. E então, me olhou e leu uma frase: 

“A razão pela qual a despedida nos dói tanto é que nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham sido e sempre serão. Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas nós nos encontramos. E talvez a cada vez tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos. Isso significa que este adeus é ao mesmo tempo um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio do que virá.” 

Levei um susto e me arrepiei. Mas tinha que confessar que aquilo ficava mil vezes mais bonito na voz de Liz.

- Lindo não é amor?

- Como chama?

- Diário de uma paixão, do Nicholas Sparks.

- E fala sobre o que? – Voltei a mexer no celular fingindo desinteresse. 

- A história de dois jovens apaixonados que em 1940 se conheceram num parque de diversões. Eles foram separados pelos pais dela, que nunca aprovaram o namoro. Para evitar qualquer aproximação, os pais dela a mandam para longe. 

Meu coração começou a bater mais forte. Eu tinha que ler esse livro.

Um mês depois... 

Estava voltando pra casa e já ia direto pegar estrada e agradecia por isso, já que peguei emprestado o livro de Paula e queria ler sossegado. Coloquei na minha mochila e me despedi da minha família que me deixou no aeroporto direto e logo estava pegando voo e começando a ler. Havia frases incríveis, e em cada uma delas eu me lembrava de Liz. 

“Viveram o mais intenso, e inesquecível romance de suas vidas.”

Chorei de saudades dela lendo tudo aquilo, morrendo de vontade de voltar pra minha menina, que eu sabia que em uma semana estava fazendo 17 aninhos. Sentia-me o Noah e podia me imaginar anos mais tarde sofrendo da forma que ele estava sofrendo. 

Os shows me distraiam, mas eu em seguida já voltava pro livro, louco pra terminar aquilo logo. Cada palavra me fazia se sentir mais perto dela. Evitei muito Paula ao telefone, mas é claro que precisei falar com ela, que percebeu que havia algo de errado comigo. Eu decidi então voltar logo pra casa depois do domingo pra me sentir mais perto dela e acabar com aquilo que sentia de vontade de ver Liz. 

Assim que cheguei de madrugada, estava agitado, nervoso, queria sentir que ali era meu lugar, e que poderia amar ela como amava Liz, sentir por ela o que Noah sentia no livro, ser feliz, completo. A gente estava bem, eu estava tentando, mas não queria não queria viver o resto da minha vida “bem”, eu queria viver o amor.

Na tentativa falha de me sentir em casa, cheio de amor, eu nem esperei Paula falar e já estava lhe beijando todo o rosto e o pescoço. Arrastei ela pra cama, fizemos amor, mas no segundo seguinte que acabou, eu já me sentia sozinho. Não sentia o que queria sentir.

Fazia 3 meses desde que me despedi de Liz, e quase 5 que estávamos separados, então as coisas não andavam bem. Eu tinha saudades, a cada segundo, e elas só pioraram no o decorrer da semana. 

“A ciência não é a única e definitiva resposta; eu sei disso e aprendi ao longo da vida. E isso me faz acreditar que os milagres, por mais inexplicáveis ou inacreditáveis, são reais e podem acontecer sem levar em consideração a ordem natural das coisas.”

O livro, que era recitou pra mim em nossa despedida, me fez ir em frente, eu precisava ver ela, e aproveitei que tinha um show no Rio pra fazer algo. Comprei um presente de aniversario pra ela, simples, que lhe possibilitasse lembrar-se de mim e guardei no fundo da mochila. Evitei Paula naquela semana o máximo que consegui, mesmo não querendo fazer isso com ela. Eu tinha tentado juro, mas não consegui e precisava fazer algo. Não tinha claramente um plano, mas sabia que pra mim aquilo já tinha dado e eu sentia que ela também precisava de mim.

“Não tinha terminado, ainda não terminou…”

Liz POV.

Fazia um mês que já havia descoberto sobre a traição do meu pai, mas não sabia o que fazer. Fiquei quietinha a principio e ele sabia que algo estava errado, já que nem conseguia olhar na cara dele. Tinha vontade de falar pra minha mãe, mas como assim que entrei de férias fomos passar as festas na casa da minha avó, eu não podia, não era o momento. Engoli aquilo quase o mês todo, já que só voltamos dia 20. Ainda faltava um tempo pras aulas começarem, e tinha meu aniversario. 

Sai pra comemorar com meus amigos, e meus pais compraram um bolo pra me esperar assim que cheguei. Mas eu sentia saudades dele, e tudo que queria era o seu parabéns. Fique grudava no celular, e ele não mandou. Ele não apareceu, o que me deixou um pouco pra baixo. 

- Você está estranha. – Meu pai disse enquanto me buscava da casa da Bia. 

- Não.

- Está sim. Liz, quando vamos superar isso tudo?

- Nunca. – Disse. 

Assim que entramos na rua de casa, passamos por um carro parado. Eu olhei na hora, e reconheci Luan dentro dele, parado pertinho, com certeza me esperando. Eu devia ter disfarçado, mas não consegui. Assim que meu pai parou o carro, eu sai pela porta e ele saiu atrás, e me puxou pelo braço, olhando na direção em que eu ia.

- Você vai entrar pra dentro de casa.

- Não! – Puxei meu braço. – Você vai, e vai ficar quietinho. Uma palavra pro pai de Luan ou pra mamãe, a gente vai confessar os três sobre “Marcelo”! 

Ele me olhou assustado e eu sai correndo. Luan abriu a porta e entrei, então ele saiu cantando pneus.

- Você é maluca? – Ele disse desesperado. – Deixou ele me ver.

- Eu sou maluca? – Disse assustada. – Você que é. Está fazendo o que aqui seu idiota? Lembra que combinamos de seguir em frente? 

- Mas não consigo Liz. Eu tentei, mas não posso.

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