domingo, 30 de outubro de 2016

100° - Acho que nosso tempo já deu.

Luan POV.

Abri o olho devagar ouvindo conversas no quarto. Esperava encontrar minha mãe, mas pela voz era Liz que estava ali, e com Mateus. Eles falavam baixinhos e assim que me mexi, percebi que pararam e logo senti Liz ao meu lado.
- Bom dia, você acordou. - Sorriu. - Como está se sentindo?
- Bem. - Disse meio sem saber como agir. - Cadê minha mãe?
- Ela foi pra casa descansar.
- E que horas são?
- Mais ou menos 8h.
- Eu queria falar com a Bella. - Disse, e ela afirmou. - E com você em particular.
Mateus percebeu que meu problema era com ele, e saiu logo, enquanto se despedia da Liz.
- Como você está se sentindo? - Perguntou entrando de volta pro quarto.
- Melhor. - Disse. - Obrigado, por ter ido.
Liz ficou me olhando por alguns segundos e depois sorriu, andou até mim e passou a mão pelo meu rosto.
- Agradeça não me dando mais outro susto desse.
Ela então ligou pra Bella, que já tinha sido acusada que eu estava “dodói” e estava toda preocupadinha.
- Papai já está bem filha, amanhã vou pra casa. - Disse sorrindo.
- Papai, fui no cinema com o tio.
- Tio tá cuidando de você pequena? - Ri e Liz me acompanhou.
- Ele foi aí agora papai, não tá aqui. - Disse nervosa, porque eu não tinha entendido.
- Tudo bem amor, eu entendi agora. - Ri. - Você não foi pra escola?
- Não! - Agitou. - Hoje eu vou ficar com a titia Bru e com o priminho!
- Então tá meu anjo. - Ri. - Papai ama você pequena.
- Também amo você papai, e a mamãe. - Bella tinha a linda mania de sempre quando dizia que amava a gente, emendava o outro junto.
Falou com Bella rapidamente e então, o médico chegou pra me ver. Passou recomendações pra Liz, e ela se mostrou preocupada. O que um ataque não faz, não é?
Logo depois minha mãe chegou, e ela mandou Liz pra casa. Fiquei o dia todo com ela, que foi embora com meu celular, então não tinha muito o que fazer além de ver as paredes brancas e conversar com a minha mãe, que parecia preocupada com algo e muitas vezes ficava grudada no telefone, enquanto fingi que não estava vendo.
- Liz está aí. - Disse depois de me ajudar com o banho. - Ela vai dormir aqui novamente.
- Mãe, eu estou bem já. - Disse me deitando. - Não precisa ninguém dormir aqui, basta a senhora noite passada.
- Amor, quem dormiu foi Liz. - Disse me deixando confuso. - Você não sabia querido?
- Não, achei que ela tinha trocado logo cedo. - Disse. - Mas por que ela ficou? Não precisava, e não precisa hoje.
- Ela insistiu. - Sorriu. - E seu pai achou melhor deixar.
- Não precisa mãe.
- Filho, ela só está preocupada. - Disse séria. - Aceite o agrado, e trate ela bem. Ela tomou uma decisão muito importante hoje. - Acariciou meu rosto. - Quem sabe vocês não se acertam?
- Ela está com o Mateus mãe, aquele amigo dela. - Disse tentando não retornar a minha memória péssima de como descobri isso.
- Mas, eu aposto que ela não ama ele como te ama. - Disse sorrindo. - E, isso é coisa da sua cabecinha.
- Infelizmente não. - Disse somente, olhando ela me dar beijos antes de ir.
Liz não demorou a subir, mas estava quietinha quando chegou. Devolveu meu celular, e eu logo entrei pra ver as mensagens. Isa havia mandado muitas e decidi ligar pra ela, sobre os olhares de Liz.
- Oi. - Disse rindo do desespero dela. - Estou vivo, não precisa se preocupar.
- Quase morri de susto Luan, e você não atendia o celular.
- Ficou com a Liz hoje, desculpa.
- Fiquei preocupada. - Disse nervosa. - Queria ir te ver, mas não sabia se era uma boa ideia por que tá sua família toda aí.
- Quer vir? - Ofereci. - Não tem problema, Liz está aqui comigo mas eu peço pra ela te liberar lá embaixo pra mim. - A mesma me olhou de lado, com certeza curiosa por não saber com quem eu falava.
- Queria, muito. - Suspirou. - Mas não quero problemas e confusão.
- Não vai, só está ela aqui agora. Pode vir, ainda tem uma hora pro fim da visita.
- Então eu vou. Tem certeza?
- Tenho, pode vir. - Falei, mesmo um pouco nervoso.
Ela não demorou pra desligar e então passei o nome todo dela, recebendo um olhar estranho de Liz.
- Pode ver isso pra mim por favor?
- Claro. - Ela disse saindo com o nome.
Liz demorou alguns minutos pra voltar, e depois voltou comendo alguns brigadeiros. Alguns muitos, talvez uma caixinha com uns 10.
- Você quer?
- Como você conseguiu entrar com isso? - Ri.
- Eles não são tão chatos. - Disse se aproximando da cama pra comer comigo.
- O que foi? - Perguntei depois de pegar um doce seu e passei a mão no seu cabelo.
- Estou um pouco ansiosa. - Disse envergonhada.
- Por que?
- Não sei, você aqui nesse hospital. - Disse suspirando. - Fiquei muito nervosa quando te achei daquele jeito.
- Ficou? - Sorri. - Estou bem já, não precisa não. Pronto pra outra.
- Não brinca não. - Disse fazendo cara feia e eu acariciei seu rosto, rindo.
Bateram na porta e a gente se assustou. Ela deixou os brigadeiros de lado e levantou.
- Deve ser minha amiga. - Disse.
Liz abriu a porta e ouvi Isa perguntar se ela meu quarto e depois se apresentar como amiga. Liz acompanhou ela e me olhava com os olhinhos baixos. Eu me arrependi de ter convidado Isa, por alguns segundos. Era a primeira vez que tinha uma conversa normal com Liz, mas ela me ver com outra já ia acabar com o progresso. Suspirei, mas sabia que Isa não tinha culpa e era alguém legal que esteve muito ao meu lado e merecia isso de mim.
- Que susto você me deu. - Isa chegou me abraçando.
- Está tudo bem agora. - Sorri, lhe dando um beijo na bochecha.
- Eu acho que vou descer pra jantar. - Liz disse baixinho.
- Você não comeu ainda? - Perguntei e ela negou. - Poxa Liz, vai passar mal. Estava comendo um monte de brigadeiro, sem jantar… - Falei, já sabendo que ela nunca comia doces antes da janta.
- Não, não vou não. - Sorriu. - Daqui a pouco eu volto. - Saiu sem me deixa falar e bateu à porta.
- Acho que ela não gostou muito né… - Isa falou.
- Ela não tem que gostar. - Disse, me lembrando dela com Mateus. Pedi os brigadeiros dela que ficaram sobre a mesinha e tampei, guardando depois de oferecer um a Isa e ela negar. - Mas acho que ela só não quis incomodar. Tá vendo agora, como eu estou bem? - Disse rindo e dei um selinho nela. - Obrigado por vir.
- Você tão novo com essas coisas? - Virei o rosto e sorri. -   Está com uma carinha tão triste. Achei que ia estar todo feliz com a Liz aqui.
- Vi ela na cama com o cara que ela está ficando. - Disse, precisava contar isso pra alguém ou enlouqueceria.
- Viu? - Disse de boca aberta. - Meu Deus, mas e ai?
- Ela não sabe, não contei, claro.
- Sinto muito Lu. - Acariciou meu rosto. - Por que você não tenta voltar com ela? - Disse baixinho, ela gostava de mim e eu sabia disso.
- Por que não quero mais atrapalhar.
- Ela te ama, vocês só estão se machucando. Isso não é justo, você não acha?
- Eu não sei de mais nada. Eu nem sei o que ela veio fazer aqui, já que sempre me afasta.
- Ela viu que te ama, só isso. Acho que era pra você agir agora.
- Não quero ela com pena, não preciso disso. Pra mim já deu. Eu vou seguir minha vida. E você também não precisa me dar esses conselhos se não é o que você quer que eu faça.
- Não se trata de querer. E aliás, quero você bem. E feliz. Isso já diz muito. - Sorriu. - Você devia ao menos tentar. A faculdade já acabou.
- Acho que nosso tempo já deu. - Disse sincero e desanimado.

Liz POV.

Larguei Luan com a menina lá no quarto que desci pro restaurante, mas estava enjoada. Bufei depois de pedir um café, e assumir que não dormiria. Meu celular tocou.
- Oi Ma. - Disse com tédio.
- Oi Liz. - Sua voz estava séria. - Preciso te dizer uma coisa. Acho que vou dar um tempo, na nossa amizade. Eu sei a melhor hora de se afastar.
- Por que? - Perguntei, com meu coração agitado. Mas tinha que concordar com aquilo.
- Seu tempo agora é do Luan. Não é uma crítica, só tenho que saber que não posso competir com ele, principalmente quando ele está internado. - Riu. - Você devia se aproximar dele e lutar por ele.
- E você? - Perguntei completando sua fala, de forma alguma contrariando. Eu sabia qual era meu caminho agora.
- Vou terminar o seu escritório, e depois quem sabe ser convidado pro casamento de vocês. - Riu.
- Obrigada por tudo Ma.
- Só queria que soubesse que torço por você.
- E eu por você. 

sábado, 29 de outubro de 2016

99° - Pelo amor de Deus Luan, não faz isso comigo!

Alguns dias se passaram da última vez que vi Liz. Fui trabalhar no Nordeste e fiquei um tempo fora, então decidi esfriar a cabeça e aproveitar a praia e acabei chamando Isa pra ir comigo, já que Bella estava na escolinha. Tentei apagar tudo da minha cabeça sobre aquilo, e voltei bem relaxado e decidido a ver Bella quando amanhecesse. Sabia que ela tinha dormido na minha mãe, então pequei a pequena e levei pra escola. Minha mãe me dei um pedaço de torta, e me pediu pra passar na casa da Liz e deixar com ela, já que ela amava as tortas dela. Mas, apressado, acabei esquecendo e decidi voltar depois de deixar Bella na escola. Parei o carro em frente, distraído. Estava muito relaxado, calmo. Entrei com a minha chave depois de chamar e ela não responder. Coloquei o pote sobre a mesa e ia embora, então decidi subir e falar com ela, mesmo sabendo que ia acabar com o meu trabalho de duas semanas.
Subi as escadas devagar, chamei baixo, mas ninguém respondeu. A porta do quarto dela - que era nosso - estava aberta no fim do corredor, e fui até lá devagar. Antes de cruzar o cômodo, eu avistei algo que nunca desejei ver na minha vida.
Liz dormia com Mateus, e os dois estavam nus, cobertos por um fino lençol da cintura. Ela estava jogada em seus braços, com os seios a mostra, pendurada em seu pescoço. Por mais que já achasse que eles estavam juntos, não consegui deixar de me surpreender. Meus olhos se encheram de lágrimas e meu coração começou a bater tão forte que achei que iria sair voando. Deixei a cena lá, e desci as escadas apressado. Não queria ficar naquele local mais um segundo sequer, e fechei a porta com cuidado pra não ser ouvido. Assim que cheguei no carro, percebi que estava tão agitado que poderia correr por quilômetros, com a adrenalina a mil, e a tristeza prestes a sair dos olhos. Comecei a ficar com muito medo de passar mal, estava completamente agitado, e sentia que aquilo não era normal. Liguei o carro pensando em chegar em casa antes de acontecer algo, mas então, ainda dentro do condomínio, alguns quarteirões antes da saída, e senti meu estômago enjoar e me obriguei a parar. Meu desespero foi tanto, que não sabia o que fazer. Tentei me acalmar, e respirar, mas entrei em pânico quando senti uma dor no peito, já que meu coração, ainda batia da mesma forma. Fiquei morrendo de medo de ter um infarte, e já não conseguia nem me acalmar. Ia dirigir até o hospital que ia sempre que precisava ali perto, mas sabia que não podia ir sozinho, é só me restou uma única alternativa. Sem querer preocupar minha mãe, decidi ligar pra Liz. Disquei os números me xingando, mas a cada segundo só conseguia pensar em Bella, e só isso me importou naquele momento.
- Liz? - Disse quando ela me atendeu.
- Oi… - Disse sonolenta.
- Liz, me ajuda! - Falei, botando a mão onde estava doendo. - Acho que estou tendo um infarte sei lá… - Comecei a chorar. - Meu Deus!
- Como assim? - Ouvi ela pular da cama. - Meu Deus, não, calma! - Disse rápido. - Onde você está?
- Perto da sua casa. Não liga pra minha mãe. Eu preciso ir pra um hospital, mas não sei se posso dirigir. E agora?
- Estou indo aí. - Disse rápido. - Estou chegando em um minuto, qual a rua?
- Expliquei e ela disse estar quase chegando.
Quando desliguei o telefone, a dor ficou pior. Não consegui acreditar que estava tendo um infarte por que ela estava com outro, isso nunca outra pessoa ouviria de mim, estava completamente envergonhado. Não deu dois minutos que desliguei e ela apareceu, abrindo a porta do carro desesperada e tirando meu cinto de segurança. Liz estava com os olhos molhados e as mãos pequenas pegavam no meu rosto.
- Pelo amor de Deus Luan, não faz isso comigo!
- Eu acho que vou vomitar. - Falei, tentando tirar a cabeça do encosto.
- Não vai não, vai levantar e me deixar dirigir. - Ela disse tentando me puxar pra fora do carro.
- Liz, eu tô tonto, vou cair.
- Não vai não, vem! - Ela me ajudou e consegui trocar de lado, enquanto Liz tomou a direção rapidamente.
Ela começou a dirigir em direção ao hospital, e a cada segundo eu fui me desesperando mais.
- Liz, não quero morrer Liz. A Bella meu Deus. - Disse quando ela parou o carro na frente do hospital.
- Para de falar besteira. - Disse rápido, segurando minha mão. - Você não vai morrer, ouviu? - Ela saiu do carro e voltou quase um minuto depois, com uma enfermeira e um homem acompanhando. Eles abriram a porta de carro e o cara me ajudou a levantar.
Agradeci por ter dinheiro e conseguir pagar um dos melhores hospitais do Brasil, mal conseguia imaginar o que as pessoas que não tinham condições passavam. Eles me levaram pra dentro e eu só conseguia pensar em ficar bem e ver minha filha novamente.

Liz POV.

Assim que que entraram com Luan, me sentei no sofá e comecei a chorar. Nunca imaginei aquilo, e me deu um desespero tão grande que só me fez ver que não conseguia viver sem ele. Quando estava prestes a pegar o celular pra ligar pro pai dele, Mateus ligou.
- Oi. - Disse suspirando.
- Bom dia, cadê você? - Perguntou rindo.
- Eu estou no hospital. - Suspirei e comecei a chorar. - Desculpa, mas Luan me ligou desesperado e eu fui socorrer ele.
- Calma, eu vou aí com você. - Disse. - Cadê ele?
- Está sendo atendido, acho que ele estava tendo um infarte ou algo parecido.
- Meu Deus, mas isso é sério.
- Eu sei, preciso ligar pra família dele, eu estou perdida.
- Estou indo aí com você.
Expliquei onde eu estava e desliguei, então liguei pro Amarildo, que disse estar ali em segundos com o pessoal do escritório enquanto uma das meninas de lá iria contar pra Mari.
Eu nem sei quanto tempo se passou até que Amarildo chegou com dois ou três funcionários, e depois Rober.
Eu voltei a chorar, estava muito nervosa enquanto explicava mais uma vez o que tinha acontecido. Então Mateus chegou e eu interrompi a conversa pra dar um abraço nele. Ele estava sendo um bom amigo, um bom amigo colorido, mas eu sabia que nada passaria disso. Meu coração nunca mais teria outro dono além do que despedaçou ele, mas que também me deu as maiores alegrias da vida.
Quando senti todos os olhares nas minhas costas, eu me afastei do Mateus, mas ele decidiu me levar pra comer algo, já que eu não tinha tomado café, e aceitei, diante dos olhares que estávamos recebendo.
- Mas ele vai ficar bem? - Perguntou.
- Não sei. - Disse tomando um café. - Espero que sim, ainda bem que Bella já esta na escola.
- Ainda bem que você socorreu. - Ele falou acariciando meu cabelo.
- Estou com tanto medo. - Disse abraçando ele de leve. - Eu não sei o que seria de mim sem ele.
- Liz… - Ele não falou nada, mas até eu percebi que aquela fala era totalmente contraditória num momento em que eu nem estava conversando com Luan, mas não me importava.
Voltei pra recepção depois de avisar que Rober buscaria a Bella e já encontrei Mari ali. Ela me abraçou forte, chorava e estava nervosa.
Mateus foi logo embora, não se sentia bem ali, e também o médico não demorou pra aparecer. Ele avisou que Luan estava bem, mais calmo e estável.
- Ele teve um quadro de angina instável. É um estágio antes do infarto, muito comum e causado por crises de ansiedade e estresse. Ele vai tomar alguns remédios, ficar em observação por uns dois dias, mas vai ficar bem. - Disse rapidamente. - Conversei com Luan, ele disse que ficou muito nervoso por algum motivo hoje minutos antes da crise. Ele já está mais calmo, mas recomendo alguns cuidados pra que não tenha problemas mais sérios.
Eu fiquei completamente aliviada. Sua mãe foi ver ele, e o pai falar com o médico, enquanto cada um tomou uma atitude com o novo boletim médico, já que boatos sobre Luan Santana no hospital já começarem a se espalhar.
E eu fiquei sentadinha ali, até toda a movimentação começar a diminuir. Rober já tinha me ligado dizendo que estava tudo bem com Bella, e ela não sabia ainda sobre tudo. Amarildo e Mari chegaram na recepção depois de tudo mais calmo, e eu ainda estava sentada ali, incapaz de me afastar daquele lugar, e sem coragem de pedir pra ver ele.
- Querida, por que não vai ficar com Bella? - Mari me perguntou. - Ele já está bem. E amanhã é sua formatura.
- Eu acho que vou ficar. - Disse rápido. Confesso que não estava mais preocupada com a minha festa.
- Então por que não vai ver ele?
- Ah, eu não sei. - Disse rápido. - Quem vai dormir aqui? Eu posso dormir?
- Amarildo vai ficar com ele meu anjo.
- Mas eu posso ficar. - Disse. - Vocês ficaram o dia todo, e…
- Tudo bem. - Amarildo falou, olhando sorrindo pra Mari. - Você pode ficar. Ficamos com Bella essa noite, e amanhã você vai pra casa descansar e se arrumar pra sua festa. - Disse. - Mas primeiro, vou te levar pra tomar um banho ou comer algo.
- Ah, não precisa, eu tô bem e…
- Liz, se acalma. Já passou. - Mari me abraçou. - Você precisa respirar. Vem… - Me puxou pro carro e ainda foi atras comigo, me fazendo carinho.
Mas eu sabia que todo aquele nervoso só passaria quando encontrasse com Luan.
Me arrumei pra voltar pro hospital, e  quando estava saindo com as dois, Rober chegou com Bella toda alegre depois que foi passear no cinema.
- Mamãe, amei mamãe! - Disse pulando no meu colo.
- Olha que legal meu anjo, titio é muito legal né? - Abracei ela forte.
- Sim! - Ela estava toda alegre, e foi só tomar um banho que já desmaiar e Amarildo levou ela pra casa dormindo, depois fui até o hospital com meu carro. Quando entrei no quarto Luan já dormia.
Ele tinha a aparência calma, carinha de anjo, mas parecia abatido. Acariciei seu rosto com cuidado, e sorri vendo que ele estava bem. Meu coração se aquietou na hora.
- Eu te amo tanto. - Não resisti.
Sabia que agora precisava repensar muitas coisas, e foi assim que dormi na poltrona ao lado dele, de um olho aberto e o outro fechado.

98° - Veio esfregar ele na minha cara por que?

Liz POV.

Era quase 20h00 e lembrei que precisava buscar Bella quando meu celular chamou.
- Oi Luan. - Atendi sob o olhar de Mateus.
- Oi Liz. - Disse rápido. - Você vai vir pegar a Bella?
- Eu estou chegando em casa, e depois vou aí. - Disse meio incerta.
- Tudo bem, ela está impaciente, acho que vou dar um banho nela.
- Então faça isso que já chego.
Me despedi e suspirei, cansada, olhando pro meu amigo. Mateus me conheceu na faculdade, depois que me separei de Luan e estava trabalhando como engenheiro do meu escritório que estava quase pronto, e passávamos horas acertando os últimos detalhes. Hoje, a pequena reunião era na sua casa, e estávamos sentados no tapete da sala, debruçados na mesa de centro.
- Tenho que buscar minha filha, chama um táxi pra mim? - Estava sem carro, já que Mateus havia me pegado em casa.
- Eu te levo, e você pega ela no caminho, vamos? - Disse se levantando e juntando nossas coisas.
- Pode ser. - Sorri, agradecendo a gentileza.
Guiei ele até o apartamento de Luan ali no Alphaville. Fomos ouvindo música, rindo e conversando sobre diversas coisas, principalmente sobre as expectativas do escritório. Estava muito feliz com aquilo.
- É aqui, vou subir lá. Se for te atrapalhar Luan pode me levar pra casa.
- Claro que não. - Ele disse. - Mas será que ele vai se importar que eu use o banheiro dele, quero muito urinar. - Disse rindo.
Pensei naquilo por alguns segundos. Luan ficaria irado, mas eu não me importava não. Ele que surtasse.
- Claro que não. - Sorri. - Vamos lá. 
Entramos os dois, sem ser anunciados, já que minha entrada era liberada. Toquei campainha rindo com Mateus, já que tinha achava mas acha muito ruim ir entrando.
- Nossa, achei que ela ia dormir. - Reclamou irritado e parou assim que viu Mateus. - Oi cara. - Cumprimentou olhando dele pra mim, como quem não entendia nada.
- Luan, o Mateus pode usar seu banheiro? - Perguntei, me segurando pra não rir da cara dele.
- Claro, entra! - Luan mostrou pra ele enquanto me sentava, mas foi só ouvir a porta fechar que ele apareceu me olhando sério.
- É sério que você está saindo com esse cara? - Perguntou indignado e segurei pra não rir. - Eu tinha ciúmes dele e você me dizia que era só amizade!
- Quem disse que eu tô saindo com ele Luan? - Ele ficou me olhando sério. 
- Olha, você não vai deixar minha filha no meio disso né? - Segurou meu braço.
Com sua aproximação, me assustei e empurrei ela, perdendo a boa e o humor.
- Você não tem o direito de se na minha vida. - Disse brava.
- Quer ficar com ele fica, mas não deixa minha filha saber. E nem vem pedir pra ele entrar na minha casa. - Rosnou. - Veio esfregar ele na minha cara por que?
- Eu não vim fazer nada, mas se tá incomodado o problema não é meu!
Ouvimos barulho e Mateus apareceu sorrindo, mas ficou sério depois que viu o clima. Me chamou pra ir e agradeceu Luan, que foi muito frio e apareceu pegando Bella no colo, já desmaiada de sono.
- Vou levar ela. - Disse.
- Se quiser eu levo. - Mateus ofereceu. - Ela já está pesada pra Liz. - Sorriu.
Luan fez cara feia e disse que levava. Acompanhou a gente até o carro, deu um beijo na filha e saiu sem se despedir de nenhum de nós dois. Fiquei muito constrangida pela situação, e me senti mal por ter causado isso com intensão de provocar ele. Mateus me levou pra casa em silêncio, e eu não resisti e chorei disfarçadamente no caminho.
Mateus fingiu que não me viu chorar o caminho todo, e eu só conseguia pensar que não devia ter provocado ele. Ele não estava nem aí pra mim, como sempre, e se bobear já tinha até uma nova namorada. A única coisa que ele fez foi me largar quando lhe foi útil.
Assim que chegamos em casa, Mateus se ofereceu pra pegar Bella, e eu acompanhei ele até o quarto. Assim que ele botou ela na cama, cobri e beijei seu rosto, encostando a porta.
- Muito obrigada Ma. - Disse parando encostada na porta da entrada.
- Liz, olha… - Ele se aproximou e fez carinho no meu rosto. - Eu não quis causar problemas.
- Não foi sua culpa, não foi culpa de ninguém. - Disse. - Luan só… - Não terminei, balancei a cabeça e senti meus olhos marejados. - Luan é assim mesmo.
- Acontece que você não tem que passar por isso, não tem que chorar por ele. - Disse sério. - A culpa não foi de ninguém, vocês só deixaram de se entender, não estavam mais na mesma sintonia. Não adianta ele ou você procurar culpado. 
Eu puxei ele pro sofá e sentei abraçada. Estava muito carente, precisava de um abraço, de demonstração de afeto, e ele me deu isso, me deixou chorar em seus braços, mas me surpreendi quando me acalmei um tempo depois e nossos olhares se cruzaram. Só fechei meus olhos e deixei a situação me levar. Talvez, de olhos abertos eu não conseguiria, mas sabia que eu precisava seguir em frente, então me forcei a conseguir. Nossos lábios se tocaram com delicadeza, e eu só consegui pensar em Luan. Logo o pequeno beijo se transformou em algo mais intenso, e ele fez carinhos no meu rosto. Me senti de alguma forma acolhida, mas chorei.
- Ma… - Comecei a dizer quando paramos.
- Não precisa dizer nada. - Me deu um beijo na testa. - Só fica bem que estou saindo. - Me deu a abraço e foi, batendo a porta. Fiquei ainda mais confusa com meus pensamentos e não preciso pontuar que foi uma noite inquieta.

Luan POV.

Estava completamente chateado com a história da Liz com aquele amigo dela. Minha vontade foi ir atrás deles, mas eu chorei. Minha mãe tinha razão, e eu não estava nem pensando nisso. Como consegui ser tão idiota de nem imaginar isso? Eu merecia!
Chamei Isa pra passar a noite aqui, não queria por nada ficar chorando sozinho, e acabei dormindo com ela. Ela ficou me fazendo carinho depois, mas não falei nada.
- O que foi que você tá com essa carinha? - Disse me dando um beijo.
- Estou chateado. - Disse sério. - Desculpa, você não tem nada com isso e não é legal te chamar pra ficar nessa… - Mexi em seu cabelo.
- Não tem problema, só fico preocupada com você. - Beijei sua mão, ela era muito carinhosa, uma pessoa incrível.
- Não precisa ficar minha linda. - Sorri. - Eu vou ficar bem, certo?
- Certo. - Me abraçou mais. - Como está sua filha?
- Está linda e muito arteira. - Disse rindo. - Mas ela é boazinha.
- Claro que sim, você é muito calmo, e a mãe dele também, pelo menos pelo que você fala.
- É sim, ela não tinha como ser diferente.
- Luan, seu coração é muito grande, não pode se entregar por esse tipo de coisa. Nenhum de vocês dois merece isso.
- Eu sei. - Disse fechando os olhos. - Meu mal é amar demais. - Sorriu fraco. - Mas vai passar. - Sorri e selei seus lábios. - Obrigado por ficar aqui, mesmo eu estando chato.
- Aí meu Deus, eu vou embora! - Disse rindo quando abracei ela. - Eu não aguento mais você, é muito chato! - Disse rindo e brincando.
- Olha que eu sou mesmo hein? - Ri.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

97º - Você está com algum problema?

Mais dois anos depois...
Liz POV.

Bella corria pela casa agitada e feliz.
- Bella, vamos parar querida, seu pai está chegando e você vai estar toda suja! - Disse irritada, enquanto estava finalizando e salvando projeto do meu escritório.
Havia me formado em Arquitetura, a faculdade dos meus sonhos. Estava muito animada pra tudo ficar pronto logo e começar a trabalhar, mas nada parecia certo.
Luan pegaria Bella em casa e estava atrasado pra festa de aniversário do priminho Felipe, filho da Bruna. Nós havíamos nos separado a 2 anos. As brigas começaram logo depois que eu entrei na faculdade, e Luan não me entendia. Ele já tinha uma carreira estável, estava bastante em casa e ficava com Bella durante as minhas aulas, mas a falta de tempo desgastou a gente completamente. Ele estava sempre irritado com meus compromissos e me queria mais perto deles. É claro que era meu desenho, mas eu sabia que a faculdade era temporário. Acho que no fundo ele nunca aceitou meus estudos naquela altura, e uma cadeira de brigas colocaram fim a tudo.
Quando ele saiu de casa foi horrível pra mim. Ele estava destruído, mas eu também. Chorei por uma semana, e como mal conseguia cuidar de mim, Bella passou uns dias na casa dos meus pais no Rio. Eu decidi ficar e encarar o problema.
Luan foi pro nosso antigo apartamento, e ficou bem no início, mas depois ele se mudou para um apartamento em Alphaville, já que quando ela fez 1 ano, resolvemos nos mudar pra uma casa no condomínio de seus pais para Bella ter mais espaço pra brincar.
Quando Luan saiu de casa, todos duvidaram. A família toda acreditava que era só uma fase e ele voltaria em alguns dias, mas as coisas só foram piorando.
Me senti tão abandonada e rejeitada que  quando ele decidiu que estava fazendo uma besteira, afastei ele, acusando e me fechando. Me sentia incompreendida, e demorou pra raiva passar. Casar não era fácil, nada fácil, e isso por que não estava casada.
Agora, tinha me formado, e apesar de feliz, não conseguia mais ver uma felicidade completa.
Bella era minha vida, o pedaço do meu amor que ficou ao meu lado. Eu sentia a falta dele todos os dias, mas as feridas eram enormes.
- Oi. - Atendi Luan na porta depois de gritar Bella. - Ela não estava se aguentando de esperar. - Sorri.
- Você não vai? - Ele perguntou erguendo a sobrancelha.
- Não. - Sorri fraco. - Eu não estou me sentindo muito bem. - Menti. A família dele me aceitava, e agora eu não me sentia mais bem perto deles.
- Não, claro que não. - Ele disse entrando. - Você vai sim. - Ele afirmou sentando no sofá. - Bruna vai ficar muito chateada se você não for Liz.
- Eu nem estou pronta. - Disse.
- Não tem problema, eu espero. - Ele disse e logo sorriu pra Bella que correu pro seu colo. - Não vou sair daqui sem você Liz. - Disse.
Engoli tudo e decidi ir. Bruna não merecia que tivesse essa postura.
Luan ficou brincando com Bella e eu me arrumei, da melhor forma que me humor me permitiu. Estava em estado constante de tristeza, e prefiro ir o caminho todo sem falar nada enquanto Bella tagarelava com o pai, cantando músicas que ela gostava.
Entramos na festa juntos, sorri e cumprimentei todos ali presentes, que olhavam pra nós dois curiosos. Bruna ficou muito pasma quando Luan contou que eu não iria, e me derreti de amores pelo meu afilhado, que estava ficando mais velho. 
A mesa dos pais de Luan, da Bruna e do marido estava grande, e eu fiquei quieta no meu canto enquanto Luan distribuía sorrisos sentado ao lado do pai e do cunhado. Mari conversava com os sogros de Bruna, e eu fiquei olhando minhas unhas e dando suco a cada vez que Bella voltava correndo e reclamando de sede. Ali não era mais meu lugar, por mais que Mari tentou me incluir nos assuntos, então preferi ficar no meu canto. Depois do parabéns Mari veio me trazer bolo e alguns brigadeiro.
- Querida, está tudo bem? 
- Só estou com um pouco de dor de cabeça Mari. - Sorri.
Fiquei quietinha até me assustar com Luan sentando na cadeira ao meu lado, um pouco afastado dos familiares.
- Está tudo bem com você?
- Estou com mal estar, eu te avisei. - Fiz careta.
- Quer conversar? - Era a primeira vez que ele me falava isso desde que havia saído de casa.
- Estou bem. - Disse.
- Não parece… - Suspirou. - Se você está passando por algum problema… - Virei o rosto. - Precisando de algo. Bella está dando trabalho?
- Não, está tudo bem. - Afirmei.
- Você não comeu nada até agora. - Disse e eu suspirei.
- Luan, por favor. - Disse seria. - Me deixa, eu não só gostaria de ir embora. Você pode fazer o favor de ir comigo até lá e pegar um táxi? - Pedi. - A Bella pode dormir na sua casa.
- Não, claro que não. - Ele levantou logo depois de mim. - Eu levo você. - Ele disse pegando a caixinha de brigadeiros que Mari me trouxe. - Você nem comeu.
Dei de ombros e levantei pra ir me despedir de Bruna, até ouvir Luan indo explicar pra mãe que me levaria pra casa.
Me despedi de Bruna, e depois do resto da família. Conversei com Bella sobre ela ficar com Luan, e a pequena mal me olhou, já que estava interessada nas brincadeiras. Deixei um beijo com 
ela então Luan ele levou até seu carro levando os brigadeiros com ele.
Ele foi de início em silêncio depois de me estender os brigadeiros, respirava pesado, parecia impaciente.
- Estou preocupado com você.
- Por que? - Perguntei.
- Você devia estar feliz, conseguiu o que você queria. - Disse. - Mas não está.
- E quem disse que não? - Perguntei.
- Você acha que eu não te conheço? - Fiquei fitando ele por algum tempo, até suspirar.
- Quem foi embora foi você.
- Nosso amor não merecia o que estávamos vivendo. - Disse impaciente. - Você não estava feliz Liz, e eu nunca quis isso pra nós. - Disse. - Eu só soube a hora de ir embora.
Ele estacionou em frente à nossa casa, que agora era minha e de Bella. Bufou, e então se virou pra mim, pegando meu rosto com as mãos. Mas, ao sentir seu toque depois de tanto tempo, me afastei empurrando ele.
- Então vai embora de uma vez e me deixa em paz. - Disse abrindo seu carro e saindo.
Eu ainda não sabia lidar com a partida dele. Luan, quando foi embora, quebrou meu coração em um trilhão de pedaços.

Luan POV.

Deixei uma lágrima cair quando Liz bateu a porta da sala e entrou. Eu não conseguia mais que ela me ouvisse, não conseguia mais falar com ela, é isso era algo muito ruim quando eu via que ela não estava bem. Amava Liz acima de muitas coisas, e essa foi uma das razões pela qual a deixei. Ela se sentia presa, e eu só queria ajudar, mas pelo visto só havia piorado as coisas.
- Oi meu filho. - Minha mãe me disse assim que cheguei em sua casa depois de alguns minutos vagando pelo condomínio pensativo.
- Oi mãe, vim pegar a Bella. Ela vai ficar em casa. - Disse, procurando a pequena.
- Ela dormiu, com o primo. - Ela sorriu comendo um brigadeiro que havia levado pra casa. Não tive como não lembrar da minha neném. - Cadê Liz? Você demorou.
- Eu fiquei por aí. - Sorri. - Liz está em casa já.
- O que deu nela hoje? Fiquei preocupada.
- Não sei. - Suspirei me sentando na mesa e escolhendo alguns doces. Eu era do tipo que descontava ansiedade na comida. - Eu achei que o tempo ia melhorar as coisas, mas não está. Ela está cada dia mais arredia comigo.
- Até hoje eu não consigo entender o por que você fez isso Luan… - Ela acariciou meu rosto. - Vocês só estão se magoando. E só vai piorar quando ela seguir em frente. - Levei um susto.
- Como assim seguir em frente? - Sussurrei.
- Ela só tem 23 anos querido. - Sorriu fraco, com olhar de pena. - Ela não vai ficar sozinha pra sempre, ainda mais com a mágoa que sente por você. - Aquilo entrou pelos menos ouvido e cortou meu coração. - Já você, pelo visto não vai seguir em frente.
Diante do meu silêncio, ela me olhou sim surpresa.
- Você nunca pensou nisso? - Neguei. - Jura?
- Não. - Suspirei.
- Filho, tenta falar com ela. Liz não é mais a mesma meu amor.
- Estou preocupado. Ela fica muito sozinha, e não consigo falar com ela.
- Quer que eu tente?
- Não, só se eu não conseguir. Vou tentar de novo.
Naquela noite deixei Bella dormindo lá, e decidi pegar quando amanhecesse. Precisava pensar em como resolver meu problema com a mãe dela, e isso já não seria nada fácil.
Quando cheguei em casa era certa de 00h30m. Estava cansado, e decidi tomar um banho e tentar relaxar. Liz me deixava constantemente em estado de tensão.
Quando estava me secando, meu telefone tocou. No visor apareceu o nome da Isabella, minha “amiga colorida”. A gente sempre ficava, mas era só isso.
- Oi Isa. - Disse rápido, enquanto me trocava.
- Oi Lu. - Disse doce. - Você está bem?
- Cansado. - Disse.
- Ia falar de passar a noite aí com você.
- Hoje não. - Disse. - Não estou no clima. Não serei boa companhia.
- Você está bem? Achei que ia estar animado depois da festa.
- Estou com a cabeça cheia! - Suspirei.
- É a Liz né?
- É… - Disse somente.
- Então podemos deixar pra amanhã. - Ela era uma pessoa de quem eu gostava muito.
- Vou ver. Acho que Bella vai vir pra cá.
- Você poderia me apresentar pra ela.
- Não Isabella, já te expliquei.
- Tudo bem! - Disse. - Não precisa ficar bravo.
- Não estou. - Disse. - Só não estou num bom dia, eu vou dormir.
- Tudo bem, me liga depois.
- Ligo Isa. Beijos. - Desliguei.
Só tinha cabeça pra pensar na Liz e nas palavras de minha mãe. Eu precisava me aproximar e reconquistar minha neném. Queria formar novamente uma família com ela e quem sabe ter mais filhos. Ela é e sempre será meu caminho.

96º - Você me quer como propriedade sua.

Um ano depois… 

Havia acabado de entrar na faculdade. Meu coração estava ansioso e batia forte. Sempre foi aquilo que eu almejava.
Luan, mesmo relutante, me ajudou com tudo. Bella tinha acabado de fazer um ano e decidimos que era algo que não pesaria agora, mas Luan se comprometeu com isso também. Ele foi comigo a uma papelaria, se mostrou alguém empenhado nos meus sonhos, mas por dentro eu sabia que ele não gostava daquilo.
Luan havia criado pra mim uma proteção muito grande, e entendia que era difícil pra ele me ver fora dela, mas ele tinha que entender. Eu não podia ficar embaixo das asas dele pra sempre. Luan não era meu pai.
Tínhamos uma família linda. Bella brincava e corria pra cima e pra baixo o tempo todo. Era uma boneca, linda e educada, quase não dava trabalho.
Optamos por não ter uma babá, somente uma empregada que agora cuidava da casa pra mim todos os dias e era praticamente da família. Assim poderia ficar mais tempo com Bella, e dar mais atenção a Luan.
Ele também queria casar logo, mas entendeu quando eu preferi fazer a faculdade primeiro. Mas eu sabia que ele esperava que eu fosse desistir.

Mais um ano depois… 
Liz POV.

- Bella! - Disse atrás da pequena que andava toda feliz pela chácara. Ela estava com quase dois anos, e era toda sapeca. Estava na fase de descobertas, e eu amava aquilo. Balbuciava palavras quase sempre que não davam pra entender enquanto andava com a boneca.
Eu amava aqueles momentos com ela, apesar de não estar muito feliz. Luan me olhava sentado na mesa da churrasqueira de cara amarrada e bravo por que queria viajar só comigo no seu aniversário e eu tinha prova na faculdade. Ele definitivamente odiava aquele lugar.
- Liz, querida! - Mari se aproximou. - Oi Mari. - Disse, pegando Bella no colo e sentando no banco.
- Eu queria fazer uma festa surpresa pro Luanzinho. 
- Do jeito que seu filho está rabugento ele manda todos embora. - Disse, sem disfarçar.
- Por que estão com esse clima tão pesado? - Perguntou doce.
- Por que ele não aceita minha faculdade. - Disse simples, com Bella reclamando no colo, então soltei ela e fiquei de olho. - Ele achava que eu desistiria por causa de Bella, por isso me deixou fazer, e deu tanto apoio. - Fiz aspas com as mãos. - Agora fica aí de cara virada até que eu aceite ceder pra ele como se estivesse errada. - Bufei. - Não aceito isso.
Aquilo estava realmente me deixando sem paciência. Olhamos de longe Bella ir até o pai e pedir colo.
- Vocês tem que entrar em um acordo. Não podem brigar até que a faculdade acabe.
- Não, quando a faculdade acabar, ele vai arrumar o motivo trabalho. desse jeito não dá. - Disse.
- Liz, não…
- Mari, eu sei que a senhora vai defender seu filho. - Disse me levantando. - Mas entenda por favor que nem todas nasceram pra serem donas de casa. - Respirei fundo e sai, me afastando da casa em direção ao lago. Me sentei no pier e me permiti chorar. Eu não imaginava que minha vida se tornaria aquilo, e não tinha nada haver com Bella.
Ela era meu chão, mas queria ser uma mãe normal com uma profissão e independente. E Luan não estava me dando esse espaço.

- Vai ficar assim emburrada mesmo princesa? - Luan chegou nas minhas costas acariciando meu braço enquanto cortava a salada pra Mari.
- Não sou eu que estou emburrada Luan.
- Me perdoa vai, eu te entendo, me desculpa. - Fez bico e eu me virei pra ele.
- A gente está aqui pra aproveitar, com a sua família, e você fica arrumando confusão.
- Eu só acho que não tem necessidade, não precisamos sacrificar nosso tempo que é tão precioso.
- Você vai mesmo insistir nisso?
- Por que você não pode fazer essa prova depois?
- Por que você está insistindo? Veio pedir desculpas ou cancelar cancelar minha matrícula? - Falei brava.
- Não, você tem razão. Pedir desculpas! - Ele pegou meu rosto e segurou entre suas mãos, colando nosso lábios. - Você é minha razão, logo é meu aniversário. - Disse fazendo bico e selou nossos lábios. - Não quero ficar brigado com você.
- Não se toca mais nesse assunto, ouviu?
- Ouvi menina! - Riu. - Eu te amo, muito. Você e nossa menininha!
- Eu também te amo meu cantor. - Disse rindo e abracei ele, aconchegando meu rosto no seu pescoço. - Cadê a borboletinha? - Ri. Luan que estava cuidando dela e a gente costumava chamar ela assim.
- Na piscina com meu pai. - Riu. - Eu passei protetor solar nela!
- E em você?
- Também!
- Não passou não mentiroso! - Ri.
- Papai papai! - Bella entrou correndo. Os cabelos lisos e na altura do queixo balancavam molhados e ela começou a molhar tudo.
- O que foi filha? - Luan riu comigo.
- Brinca, vem!
- Na piscina?
- É papai, com vovô! - Ele riu lhe dando a mão e sorriu.
- Vamos? - Perguntou.
- Vou terminar de ajudar sua mãe.
- Tudo bem. - Fiz careta e ri dos dois.
Apesar de todos os problemas, eu sabia que era uma fase, ou pelo menos esperava. A gente se amava, e não era possível que uma mera graduação fosse acabar com nosso amor depois de tantas provações que superamos! 

Mais um ano depois...

- Liz, por favor, para de gritar! - Pedi sentado no sofá. Fazia duas horas que ela estava me julgando. Nisso relacionamento só ficava pior a cada dia e eu não estava mais aguentando. Não conseguia entender quando foi que o casal mais apaixonado do mundo se transformou naquilo.
Havia saído pra beber depois de uma briga, e acabou que ela não conseguiu ligar pra minha mãe pra deixar Bella com ela, e perdeu uma prova da faculdade. Aliás, o problema era essa faculdade.
Liz não tinha mais tempo pra mim, e eu não queria aquilo. Precisava de uma saída.
- Pra você é fácil. - Acusou. - Você sabia que era importante, eu não consigo entender por que você não está do meu lado. - Gritou, causando um grito de Bella que estava sentada no tapete ao meu lado.
A pequena começou a chorar e ouvi Liz abaixou e pedindo desculpas enquanto abraçava ela. Por outro lado, estava no meu limite. As briga já haviam começado a afetar nossa filha, e Não havia conseguido buscar um caminho. Queria Liz ao meu lado, mas estava difícil.
- Liz, cansei de brigar por isso. - Disse quando ele desceu as escadas sozinhas depois de colocar Bella na cama. Me levantei e me aproximei dela, que se afastou. Encostei minha menina na parede e ia fazer um carinho quando ela afastou minha mão.
- Você me quer como propriedade sua.
- Não é bem assim. - Disse bem mais calmo do que imaginei. 
- É bem assim sim! - Me empurrou. - Nunca vou ser feliz enquanto você não estiver do meu lado, como homem, e não pai. - Disse com raiva e me empurrou.
Peguei seu braço com força. A ira invadiu meu corpo, e eu fiquei tão chateado com aquelas palavras que me policiei pra não acabar exagerando na força.
- Quer dizer que você não é feliz? - Perguntei rindo e ironizando.
- Não! - Encheu a boca pra falar e me atacar.
Aquilo caiu como um luva em mim. Ela sabia que as palavras me atingem e usou contra mim. Liz tinha jogado muito sujo.
Soltei seu braços e vi uma lágrima em seus olhos, mas eu não deixei uma só cair enquanto ainda estava na frente dela, me afastando e procurando as chaves do carro e uma camiseta. Quando cheguei no volante do carro, eu chorei muito.
Eu não queria nunca causar tanta confusa e tanta briga. E me doeu muito quando ela disse com todas as letras que não era feliz. Isso eu não podia admitir. 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

95° - Vocês são tudo pra mim!

- Olha, não quero brigar com você agora Aline. - Disse respirando fundo. - Estou bem tranquilo.
- Não queria que ficasse assim comigo. As coisas não são assim, eu não fiz por mal.
- Tenho certeza que não. - Disse com ironia. - Não engoli isso ainda. Você como amiga deveria botar juízo na cabeça dela num momento de desespero. O que você apoiou, pra mim não é ser amiga, e você sabe disso.
- O corpo é dela e…
- Mas ela tem noivo. - Disse. - Bella diz respeito a mim também. Eu tinha que ter conhecimento disso, e você sabe disso. Devia ter aconselhado ela a conversar comigo. - Acusei. - Não levar ela numa clínica, ilegal diga-se de passagem. Sabe Deus como as coisas são nesses lugares, ela podia morrer. - Disse sério. - A culpa não é toda sua, claro. Liz foi muito irresponsável, mas você me decepcionou. 
Seus olhos me olharam se enchendo de lágrimas e eu suspirei.
- Olha, só que eu sei, que vocês são novas, não tem cabeça. - Disse respirando fundo.
- Me desculpa.
- Não engoli isso ainda… - Disse suspirando. - Mas eu não quero ficar preocupado com a amizade de vocês. Vamos fingir que isso não aconteceu, então fim. Mas espero que entenda que a nossa relação não será mais a mesma. - Disse pegando as latinhas na mão e saindo. 
A sala estava uma festa só, e Liz estava encantada e feliz, e isso me fazia tão bem que eu não precisava de mais nada. Nem mesmo Aline iria estragar isso. Liz feliz me deixava feliz, e Bella também sentia isso, também fazia bem a ela, que ficava calminha.
- E quando vão casar? - Bia perguntou me olhando sorrindo.
- Por mim podia ser hoje, mas Liz não quer. - Fiz careta e todos riram.
- Para de ser boba amiga! - Luiza já declarou.
- Ela quer estudar primeiro. - Falei.
E então se iniciou geral uma reclamação sobre a faculdade. Eu também queria viver algo do tipo, mas já havia sacrificado essa vontade a muito tempo.

Alguns dias depois cheguei de madrugada depois de um show no domingo. Liz já estava em casa com Bella, o que me deixava mais à vontade, mas também mais preocupado. Minha mãe estava sempre atenta, mas ainda sim meu coração protetor que agora batia por duas, não se aquietava.
Entrei devagarinho, bem em silêncio pra não fazer barulho e acabar acordando elas. Quando cheguei no nosso quarto, não encontrei Liz na cama, e então deixei minhas coisas jogadas, tirei a roupa ficando só de cueca e me dirigi até o quarto da Bella. E então me deparei com a cena mais linda que poderia ter imaginado. Minha menina sorridente estava no colo da mãe, na poltrona de dar mamá. Liz dormia com ela no colo, agarrada a nossa filha, e a boneca não se mexia em sono profundo. Tive certeza que era muito abençoado.
Me aproximei, tentando não acordar às duas, e falei baixinho com Bella.
- Papai chegou pra cuidar de vocês pequena.
Ela começou a se mexer, e deu um sorriso, ainda dormindo. Toquei o braço da neném mais velha e ela abriu os olhos assustada e se agarrou mais a Bella.
- Luan…
- Desculpa, não quis te assustar meu amor! - Disse. - Você dormiu.
- Ela estava chorando. - Sorriu e me deu um selinho.
- Me dá ela aqui! - Peguei a pequena e depois de dar um beijo e receber um sorriso inconsciente, voltei ela ao berço.
Liz estava cansada, era perceptível. Arrastei ela comigo depois de ligar a babá eletrônica. - Você está com uma carinha de cansada.
- Ela não dorme bem quando você não está. - Disse me abraçando enquanto caminhamos. - Fica impaciente.
- Não diz isso que eu não vou mais.
- Não vai… - Fez bico e riu.
- Você precisa descansar, e relaxar.  É importante pro leite.- Disse chegando bem perto da minha cama e levando a mão a sua camisola.
Liz protestou, dizendo que ainda não podia, mas eu ri e deixei ela só de calcinha, envergonhada.
- Deita na cama de bruços. - Ela riu fazendo o que eu mandei.
Arrumei seus braços, rentes ao corpo e contemplei o quanto ela estava linda. Seu corpo era praticamente o mesmo de antes, e estava com belos seios por causa da amamentação. Afastei os pensamentos e então me dirigi até o banheiro, buscando um creme com cheiro gostoso.
Voltei e espalhei um pouco nas costas dela, que riu reclamando do gelado.
- Vai fazer massagem? - Sorriu.
- Vou. - Ri, apertando sua bunda. - Fica quietinha vai…
Comecei a passar minhas mãos em suas costas. Não tinha altas técnicas, mas eu sabia que ido feito com amor valia.
Apertava mais em pontos que percebia sua tensão, e ela logo estava relaxada, sorrindo e dormia. Cobri ela com um lençol, e fui tomar um banho, completamente feliz.

Na semana seguinte, resolvemos ir com Bella pra Londrina passar alguns dias na chácara. Liz estava toda feliz quando montei o bercinho que comprei pela internet e instalei do lado da nossa cama. Estava um calor, e então incentivei Liz a colocar um biquíni e entrar comigo na piscina enquanto Bella dormia na sombra mais próxima. A mãe não descansou um segundo, só ficava olhando pro carinho. Abracei ela por tras, e sorri.
- Por que você não relaxa um pouco?
- Ai amor, não consigo.
- Ela está só dormindo pequena.
- Eu sei… - Ela sorriu se virando pra mim e passou os braços pelo meu pescoço. - Eu sou muito feliz por ter uma família linda como essa…
- Eu preciso dizer o que eu acho sobre isso? - Beijei seu rosto. - Vocês são a minha vida, todinha. Não sei o que seria se não tivesse vocês. Sou muito feliz.
Ficamos abraçados por muito tempo, até o sol começar a se pôr. Liz levantei com o choro baixinho de Bella e saiu da piscina, enquanto fui logo atrás. Ela se secou e colocou um vestido de saida de praia pra poder pegar a pequena enquanto eu balancei ela. Sentamos no banco enquanto Liz pegava a mamadeira da pequena, e dei um beijo delicado na sua testa. Ela não demorou pra se acalmar, e Liz trouxe a mamadeira. Bella pediu o colo da mãe.
- Oh meu anjinho, que fominha… - Liz conversou com ela. - Mamãe e papai são desnaturados né?
- Olha como ela está apressada. - Disse rindo enquanto ela mamava.
- Está com fominha.
- Dorme o dia todo e dá nisso, sua preguicinha. - Ri. - Conseguiu ser mais preguicinha que a mamãe.
- Que a mamae? - Liz riu. - O papai não né?
- Papai não, papai levanta cedo. - Disse rindo. 
Bella nos surpreendeu rindo, e Liz me zuou.
- Papai levanta cedo né pequena? - Riu.
- Ela é linda demais. Como eu amo ela…
- Puxou mamãe… - Disse Liz sorrindo.
- Preciso concordar. - Falei, passando o braço pelos ombros de Liz. - Não preciso de mais nada, sabia?
- Eu te amo, obrigado por não desistir de nós.
- Eu faria tudo de novo, e ainda melhor. - Acariciei seu rosto. - Vocês são tudo pra mim.
- Eu nem sei o que seria da minha vida sem você, e sem Bella. - Liz sorriu.
- Vocês são mais lindas que esse por do sol. - Sorri. - Sabiam?
- E você é um mentiroso. - Liz riu e me deu um beijo delicado, tirando em seguida a mamadeira da pequena que não quis mais. - Só peço a Deus, muitas vidas como essa. E momentos como esse.

Meninas, me perdoem. Não tem nem como dar explicações. Quem quiser ler o final, ficaria muito feliz!